Casos de depressão pós parto são bem mais comuns do que imaginamos. No Brasil, o transtorno atinge uma em cada cinco mulheres. O quadro pode se iniciar logo no primeiro mês de vida da criança ou até um ano depois.
Vamos reproduzir aqui um texto muito interessante, da Revista Saúde, ed. Abril, do mês de outubro de 2019.
Aos 24 anos, Luciana* engravidou pela primeira vez. Uma gestação desejada e tranquila. O parto também correu bem. No entanto, no dia seguinte ela se sentiu estranha. Natural estar à flor da pele nesse momento, pensou. Mas, semana a semana, o mal estar continuava. Ela teve diificuldades para amamentar e foi complicado lidar com divergências familiares sobre a questão. Até se acertar com o aleitamento, dois meses se passaram – e Luciana se enxergava cada vez mais só e sobrecarregada. Não conseguia dormir, mesmo exausta. A irritação era grande e o choro, constante. Nem a evolução da criança que no começo a deixava feliz, a alegrava mais. Em seu intimo questionou-se: “Por que fui ter um filho?”. A certa altura, intuiu que a angústia podia estar além da conta. Comentou com o marido na época: ” Acho que estou com depressão”. Ele descartou a hipótese. Achava que, se o problema fosse esse a esposa não sairia da cama. Ao desabafar com a sogra, Luciana ouviu que, caso estivesse mesmo sentindo “isso”, teria que se afastar da criança, ” Ela me apavorou. Passei meses fingindo que aquilo não era comigo e não falei com mais ninguém a respeito”. Quando a pequena completou 1 ano, Luciana iniciou a psicoterapia. E ouviu da profissional a confirmação da sua suspeita: estava vivendo uma depressão pós-parto.
O puerpério é um período delicado, além da queda hormonal a mulher está fragilidada psiquicamente, fisicamente e socialmente, afinal, toda a sua rotina é modificada, o corpo está se recuperando. Para a maioria das mulheres, a soma desses fatores leva a um quadro chamado de baby blues, mas atenção Baby blues é diferente de depressão. Seus sintomas são parecidos, falta de energia, choro fácil, irritabilidade porém, estes sintomas desaparecem em alguns dias e sozinhos sem necessidade de medicação. Se as coisas não começam a voltar ao normal em menos de 30 dias, é aconselhável buscar ajuda médica e psicológica.
Os sintomas podem surgir ainda na gestação embora dificilmente sejam diagnosticados; Alguns episódios anteriores a doença, contratempos surgidos na gestação, dificuldades conjugais, entre outros podem contribuir para desencadear o distúrbio. Os indícios são os mesmos de qualquer depresão: perda de prazer e motivação, melancolia, choro fácil, irritabilidade, sensação de vazio; porém, isto tudo torna a tarefa de cuidar do bebê ainda mais difícil do que já é, causando sofrimeto extra.
Quanto antes o diagnóstico e o tratamento forem feitos, mais fácil será a recuperação. É importante procurar ajuda, não tenha vergonha, é uma doença mais comum do que imaginamos. Psicoterapia ajuda a lidar com os sentimentos que causam sofrimento, Ioga, meditação e outras práticas alternativas atenuam o sintomas de estresse e ansiedade, medicamentos com aval do seu médico. Se não tratada a depressão pode se tornar crônica e mais grave.
Há uma cobrança interna e social, a partir do momento em que engravidam, as mulheres só são “autorizadas” a demonstrar felicidade, completude e gratidão; as queixas devem ser no máximo, sobre enjoo, azia e dor nas costas. é importante conversar sobre o assunto, parentes e amigos próximos podem dividir suas experiências pessoais e deixar claro que é comum se perguntar “O que eu fiz da minha vida?” diante dos desafios enfrentados na maternidade e isso, não significa que o filho é menos amado ou que a mulher é péssima no papel de mãe. “Pouco se fala sobre o puerpério e ele não é um comercial de margarina” é o que a ginecologista e obstetra Helga Marquesini compartilha com suas pacientes.
E, é possível PREVENIR